28 abril 2005

Gentilezas

O futebol português continua de parabéns. Estamos a viver os momentos finais de uma superliga que constitui, talvez, o campeonato mais competitivo de sempre. Mas para além dessa emoção a rodos, temos tido ultimamente demonstrações de um nível ético excepcional no futebol português. De facto, a boa vontade e altíssimos valores morais marcaram pontos na semanapassada, sobrepondo-se a interesses mesquinhos como são a vontade de somar pontos. Ficou demonstrado, por alguns agentes do mundo da bola que há coisas mais importantes do que somar pontos e ganhar jogos. Veja-se, por exemplo, a gentileza com que o Benfica tinha emprestado dois jogadores ao Estoril e a forma magnífica como este clube, de boa vontade, nãoos colocou a jogar de início: a bondade humana magnificamente recompensada! Mas as gentilezas não ficaram por aqui. O estádiodo Algarve foi amável e desinteressadamente emprestado ao Estoril para receber o Benfica com toda a pompa e circunstância: um estádio novinho em folha, todo colorido, quase a estrear, para receber os campeões com toda a deferência! Aí está um exemplo magnânimo de etiqueta e boas maneiras; é o que se chama a arte de bem receber! E até o Benfica ajudou a este festival de nobreza ao emprestar as sapatilhas ao árbitro. Este, para não ficar atrás, teve um gesto muito bonito: devolveu as sapatilhas mas primeiro teve o cuidado de as lavar! Gestos destes, cenas bonitas, quase enternecedoras, fazem falta ao futebol português e só dignificam quem as pratica. É claro que o Estoril até pode descer de divisão; é claro que se tivesse jogado em casa podia ter conquistado pelo menos um pontinho que, eventualmente, os poderia salvar da descida. Mas que valor podeter a permanência quando comparada com esta nobreza de sentimentos? Pode eventualmente descer de divisão. Pode sim senhor; mas a beleza dos gestos fica para a eternidade. Além do mais, com estas decisões, o Estoril pode estar a contribuir, de forma generosa e absolutamente desinteressada, para a alegria de milhões de benfiquistas desejosos de alcançar o título. Mas que pena, depois de todas estas cortesias, terem sido proferidas palavras tão azedas, ter sido desencadeadas tantas discussões! Quase uma semana depois do jogo, ainda se fala de polémicas, de zangas, de injustiças! Tudo por causa da boa vontade! Até os dirigentes do Sporting vieram participar no lavar de roupa suja, acusando os rivais da Luz de “promiscuidades”. Que injustiça! Pior ainda, houve quem logo erguesse a voz dizendo que o Sporting tem “telhados de vidro” por também terem sido “promíscuos” na antecipação de um jogo da Taça! É lamentável que haja sempre quem se lembre do que está morto e enterrado. E ainda por cima esse episódio só tinha acontecido porque o Sporting tinha também sido generoso com o Pampilhosa. Mais uma vez, são os bons sentimentos a serem despudoradamente censurados! É, de facto, lamentável e ingrato que tantos actos de nobreza de carácter, de solidariedade desinteressada, de bondade (por que não?), sejam vilmente criticados, que tantas puras intenções sejam manchadas e punidas com palavras tão azedas. No meio de toda esta confusão, de todo este enredo trágico-cómico, há uma personagem estranha: o Sporting de Braga. De facto, este clube parece ser o único dos que lutam pelos primeiros lugares que não tem sido generoso com ninguém.Não empresta nada, não tem palavras amáveis, parece que só seinteressa por jogar à bola. Parece até que é o único que se limitaa ganhar quando marca golos e a perder quando sofre mais do que o adversário. Nada mais! Ora, sabendo-se que a sorte protege os virtuosos não sei se não estará na hora de o Braga enveredar por uns gestos altruístas. Talvez seja a hora de também começar a praticar boas acções.
Manuel Cardoso

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