02 junho 2005

Acabou a vindima.

Acabou a vindima, está na hora de lavar os cestos. O Benfica foi campeão e o Vitória de Setúbal ganhou a Taça; um final a condizer com o enredo: o Vitória, com o orçamento mais baixo da superliga sublinhou o mote da época - a sublevação dos pequenos. Sempre em bicos de pés, depois de eliminar o Guimarães, o Braga e o Boavista, os da terra de Bocage bateram o pé a um campeão ainda na ressaca dos festejos. Foi bonito de ver, um clube de quem se dizia já não conseguir pagar os ordenados, encheu-se de brios e ganhou com todo o mérito. Quanto ao Benfica, merece os parabéns por ter conseguido o título, ao fim de onze anos de luta tenaz. Depois de ter passado uma época cheia de assobios e polémicas, é com todo o mérito que o Benfica chega ao fim em primeiro, superando o campeão europeu, o finalista da taça UEFA e o Sporting de Braga (!).Há cerca de seis meses atrás, o presidente encarnado, Luís F. Vieira, afirmava à Comunicação Social: “Disse uma vez no autocarro à equipa: vamos ser campeões no Porto, na última jornada. O país vai parar e vamos demorar uma semana a chegar a Lisboa”. Premonitórias palavras! Foram, de facto, campeões na última jornada, no Porto e Portugal parou. Parou de tal maneira que até o nosso primeiro (José Sócrates) aproveitou para nos apertar o gasganete mais um bocadinho. Roucos de tanto gritar, os benfiquistas (que, como se sabe, são mais do que os portugueses) nem tiveram forças para gemer com o aperto da corda no pescoço. De facto, L. F. Vieira só não acertou numa coisa: não demoraram uma semana a chegar a Lisboa porque havia ainda a final da Taça (que maçada, terão pensado alguns jogadores). Mas a derrota no Jamor nem custou muito a digerir porque a euforia ainda reinava. Logo após a conquista do título, o referido presidente encarnado tinha afirmado: “Fomos sérios dentro e fora do campo”. Confesso que esta frase me deixou confuso: afinal não era suposto serem-no sempre? E não é suposto que os adversários também o sejam? Mais confuso fico ainda quando me lembro de algumas afirmações de L. F. Vieira quando, antes do início da época, afirmava que o Benfica precisava de ter mais “peso” na Liga e no Conselho de Arbitragem. Afinal não foi preciso aumentar esse peso? Bem, o melhor é não pensar muito nisto porque não iria certamente concluir coisa nenhuma. Aliás, no futebol português raramente se conclui coisa alguma. O que conta mesmo são os somatórios finais e o Benfica foi quem amealhou mais pontos. Alguns dizem que foi o “frango” do Ricardo que decidiu o campeonato; outros dizem que foi a auto-expulsão do Liedson; outros ainda afirmam que quem decidiu tudo foi o Estoril; há ainda quem diga que Luís Guilherme e Cunha Leal também tiveram um papel importante. Será? Mas nestas coisas funciona sempre aquela frase do anúncio das pizzas: “tudo é importante”; passe o lugar-comum, um campeonato é uma prova de regularidade e para uma equipa chegar ao fim em primeiro tem que haver muitos factores a contribuir para tal. Um desses factores foi, sem dúvida Trapatoni. Foi, ao longo da época, um treinador contestado, assobiado, insultado mesmo. Pelos mesmos benfiquistas que agora festejam. O futebol tem destas coisas. Afinal, jogar feio e ganharparece que está na moda. O título do Benfica, na verdade, deve-se em parte a esta “velha raposa” (raramente este epíteto foi tão bem aplicado). Ele soube ver, com toda a calma do mundo, que a voz dos adeptos não é a voz da razão. Nós vemos as coisas à luz do coração e de vez em quando é bom que o admitamos.Mas também José Veiga e Luís Filipe Vieira tiveram o seu mérito,incutindo um espírito ganhador que há muito não se via no Benfica (para o empresário esta é também uma vitória pessoal sobre Pinto da Costa e Jorge Mendes). Acima de tudo, trouxeram uma onda de entusiasmo e euforia que se viveu na Luz durante toda a época. Uma euforia tão grande que tudo o que é negativo cai no saco do esquecimento. Ninguém repara, por exemplo, que o passivo consolidado do Benfica é de 375 milhões de euros e neste ano aumentou em 50 milhões. Afinal de contas, o futebol vive de vitórias; que interessam os números? Para a História fica apenas isto: o Benfica é campeão, o Vitória ganhou a Taça e para o ano há mais. Sem azias nem invejazinhas, parabéns aos vencedores.
Manuel Cardoso

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