Segundo o mais recente estudo da Deloitte, o futebol português continua num estado lastimoso em termos financeiros. Num tempo de vacas magras, os clubes continuam a fazer lembrar aqueles fidalgos (de outrora e de agora) que ostentavam rendas, bordados e berloques sem terem dinheiro para mandar tocar um cego. Diz o Major que estão de calças na mão. Não sei se estão, porque o que vemos continuadamente é dinheiro a ser esbanjado. Toda a gente se queixa mas parece que a crise só serve para justificar o incumprimento fiscal e as dívidas acumuladas. Como é possível que no meio de tantos queixumes os clubes tenham aumentado os gastos em quatro por cento? Afinal que crise é esta? Será crise ou incompetência?O senhor Major, sempre interveniente e cheio de boas intenções, queixa-se do Estado! O tal Estado que vai ficando nas bocas do mundo pelos perdões e protelamentos das dívidas é alvo da crítica do presidente da Liga de Clubes porque não arranja uma solução para o problema. É esta a triste realidade do nosso tristepaís: quando não há competência para resolver os problemas e quando eles não se resolvem sozinhos, o Estado que resolva! Sejamos claros: são os clubes e SAD’s que têm que resolver os seus problemas! Queixa-se das más receitas das bilheteiras. Masmuitas vezes são os clubes que provocam esses maus resultadosao privilegiarem as transmissões televisivas que “empurram” os jogos para horários incríveis, ou então impõem preços proibitivos esquecendo que é melhor vender muito do barato do que pouco do caro. Por outro lado, gasta-se demasiado. Mas o problema nãoé só esse; é que as SAD’s têm que ter uma dinâmica empresarial.Em Inglaterra também se gastam balúrdios mas os clubes dão lucro. A diferença está na qualidade da gestão: uma dinâmica que lhes permite obter receitas muito diversificadas e que compensam os investimentos feitos. Se os bingos e as bombas de gasolina já não resolvem os problemas, têm que ser encontradas outras formas de aumentar as receitas. Não podem ficar à espera que a televisão e as bilheteiras paguem tudo, inclusivamente os luxos. Como podem os clubes queixar-se da crise se continuam a pagar salários absurdos e nada fazem para encontrar outras receitas? Dirão alguns dos leitores que para haver sucesso financeiro tem que haver sucesso desportivo (comoaconteceu com o F. C. do Porto) e o sucesso financeiro requer riscos, uma vez que não há investimentos sem riscos. No entanto, o S. C. de Braga parece querer demonstrar que é possível obter sucesso sem correr grandes riscos financeiros. É preciso é competência no trabalho de prospecção e na gestão técnica, racionalidade nos investimentos e criatividade na procurade receitas. Não fosse o parco sucesso deste último parâmetro e teríamos em Braga o exemplo perfeito de uma excelente gestão.Seja como for, o nosso clube já conseguiu um feito histórico: duas presenças consecutivas nas competições europeias. Agora étempo de atacar a Liga dos Campeões. Após dois jogos em que o rendimento foi claramente inferior era de esperar uma certa quebra psicológica. No entanto foi surpreendente a calma exibida pelos nossos atletas no estádio do Bessa, onde fizeram um dos melhores jogos da época, mesmocom a ausência de vários titulares habituais. Uma exibição serena, coroada com dois golos do excelente ponta de lança JoãoTomás. Isto vem, mais uma vez, provar o excelente ambiente do balneário bracarense e o magnifico trabalho da equipa técnica.Nunca um lugar no pódium esteve tão perto de nós. Portanto, no próximo sábado vamos voltar a fazer tremer a pedreira. Temos que afirmar todo o nosso braguismo. E a oportunidade é única: o jogo de sábado será um excelente teste aos verdadeiros bracarenses porque decorre ao mesmo tempo que as partidas (televisionadas) dos “grandes”. Mas para os verdadeiros braguistas, “grandes, grandes são o Bom Jesus e a Senhora do Sameiro”. Para nós nem o SCB é grande; é enorme!
Manuel Cardoso