08 janeiro 2004

Arbitragem.

Arbitragem: maus árbitros, ou maus dirigentes desportivos?
Esta época, a exemplo de outras anteriores, tem sido pródiga em polémicas, polémicas essas essencialmente devido ao trabalho dos árbitros.
O que o adepto de futebol com o mínimo de fair play pede a um arbitro é, isenção, imparcialidade, critérios uniformes. O que se passa nos relvados portugueses, algumas vezes, é tudo menos isto. Podem dizer que errar é humano, mas errar sempre para o mesmo lado é inexplicável, ou será? Quantas vezes os árbitros são o factor determinante, decisivo, do resultado final?
Má preparação, tanto técnica, como física, más condições de trabalho, “pressão“ constante, contribuem para fracas performances em campo. Se formos rigorosos com os critérios de avaliação, podemos contar os bons árbitros com os dedos das mãos, e talvez sobrem dedos...
Aparte a qualidade dos árbitros, se são bons ou fracos, para muitos intervenientes no futebol, desde o adepto até ao dirigente, muitas vezes, eles, os árbitros, servem para expiar os maus momentos. Os árbitros são os bodes expiatórios dos resultados menos bons, ou dos maus momentos das equipas, dos erros dos treinadores, dos jogadores ou da falta de concretização das equipas. Os próprios jogadores por vezes não ajudam: simulações, agressões gratuitas, virilidade excessiva.
Hoje o futebol, cada vez mais está a transformar-se numa “industria”. Cada vez mais movimenta verbas impensadas á uns anos atrás, hoje fala-se de milhões de contos, de milhões de euros, e um lugar por exemplo na Liga dos Campeões é sinónimo de receitas fabulosas, receitas que pelo montante faz sonhar qualquer gestor. Cada vez mais o futebol exige mais profissionalismo, exige mais dos dirigentes, mais dos jogadores e staff técnico. Exige gestões equilibradas, exige um planeamento empresarial. Como hoje não está somente o prestigio, a glória de um clube em jogo, é natural que as “pressões” em torno de determinados agentes sejam também maiores.
Quando existem más arbitragens- que as há - não podemos culpar unicamente os árbitros pelo mau trabalho que efectuam dentro das quatro linhas. Se a arbitragem está mal, há que responsabilizar nas devidas proporções os dirigentes desportivos, tantos aqueles que gerem o futebol nas mais altas instâncias, como os dirigentes dos clubes. No entanto, estes alheiam-se das responsabilidades que lhes estão directamente imputadas. Quem é que elege os organismos que organizam as competições, os campeonatos nacionais? Se a arbitragem está mal e não se recomenda, são eles, os dirigentes desportivos, e não os árbitros, na minha opinião, os principais responsáveis pelo actual estado da arbitragem nacional.
Vimos amiúde surgirem declarações de agentes desportivos, que lançam no ar muita suspeição em torno dos “homens de negro”. Declarações muitas vezes claras que apontam no sentido do controle dos homens do apito. Estas denuncias, ou suspeições, ferem e de que maneira a credibilidade da arbitragem, mas essencialmente a credibilidade do futebol. Assistimos quase todos os dias a dizer mal dos árbitros, das decisões da C. Arbitragem, da Liga e Federação, da APAF, e se estivermos atentos, as acusações, insinuações partem quase sempre de “meia dúzia” de “incendiários”...Curioso que é uma situação dita normal, quando de normal não tem nada.
Aproximamo-nos do EURO 2004, e seria benéfico para o futebol português que este clima de suspeição e falta de credibilidade acabasse, ou pelo menos amainasse um pouco. Urge acabar com este clima de suspeição, mas os altos dignatários do nosso futebol, pouco fazem para resolver este, chamemo-lhe problema. Reparem meus amigos, que este problema é bem antigo e continua de ano para ano. Diz-se muita coisa, mas pouca coisa se faz, será que existe verdadeira vontade de mudar alguma coisa?
Existe todos os “anos” movimentações em redor da arbitragem, mas será que não serão movimentações com o único propósito do controle da arbitragem? Os clubes procuram afincadamente esse controlo, e esse controlo a existir(???) é um óptimo meio de alcançar, ou ajudar a alcançar os objectivos propostos. Fala-se muito dos lobbies clubisticos, e quem detiver o “poder” não lhe interessa mudar coisa alguma, e os “outros” talvez aguardem a oportunidade, na penumbra, ansiosos por terem esse “poder”, e assim tomar as rédeas deste factor tão apetecível, e dizem, decisivo no futebol. Nesta “guerra de sombras” quem fica prejudicado é sempre o futebol.
Procura-se soluções; fala-se num organismo autónomo; fala-se na implantação da tecnologia para auxiliar os árbitros; fala-se na profissionalização, mas o que se pede é que acima de tudo haja responsabilização...dos árbitros, mas essencialmente dos dirigentes desportivos.
Será que vai mudar alguma coisa? Será que há vontade?
Para o bem do futebol espero que sim!!!


José Araújo
Superbraga.com/ Diário do Minho

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